Pecador
Este é o altivo pecador sereno,
Que os soluços afoga na garganta,
E, calmamente, o copo de veneno
Aos lábios frios sem tremer levanta.
Tonto, no escuro pantanal terreno
Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta,
Nem assim, miserável e pequeno,
Com tão grandes remorsos se quebranta.
Fecha a vergonha e as lágrimas consigo,
E, o coração mordendo impenitente,
E, o coração rasgando castigado,
Aceita a enormidade do castigo.
Com a mesma face com que antigamente
Aceitava a delícia do pecado.
Primavera
Ah! Quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos comovesse! Ah! Quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!
Ver o desabrochar da
primavera!
Saíamos com os pássaros e a aurora.
E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
“Beijemo-nos! Amemo-nos! Espera!”
E esse corpo de rosa recendia,
E aos meus beijos de fogo palpitava.
Alquebrado de amor e de cansaço.
A alma da terra gorjeava e roa…
Nascia a primavera… e eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço!
Olavo Bilac
“Alma Inquieta”
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