sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Alma Inquieta


Pecador

Este é o altivo pecador sereno,
Que os soluços afoga na garganta,
E, calmamente, o copo de veneno
Aos lábios frios sem tremer levanta.

Tonto, no escuro pantanal terreno
Rolou. E, ao cabo de torpeza tanta,
Nem assim, miserável e pequeno,
Com tão grandes remorsos se quebranta.

Fecha a vergonha e as lágrimas consigo,
E, o coração mordendo impenitente,
E, o coração rasgando castigado,

Aceita a enormidade do castigo.
Com a mesma face com que antigamente
Aceitava a delícia do pecado.



Primavera

Ah! Quem nos dera que isto, como outrora,
Inda nos comovesse! Ah! Quem nos dera
Que inda juntos pudéssemos agora
Ver o desabrochar da primavera!
 Ver o desabrochar da primavera!

Saíamos com os pássaros e a aurora.
E, no chão, sobre os troncos cheios de hera,
Sentavas-te sorrindo, de hora em hora:
“Beijemo-nos! Amemo-nos! Espera!”

E esse corpo de rosa recendia,
E aos meus beijos de fogo palpitava.
Alquebrado de amor e de cansaço.

A alma da terra gorjeava e roa…
Nascia a primavera… e eu te levava,
Primavera de carne, pelo braço!


Olavo Bilac

“Alma Inquieta”




última atualização:
1.12.2017.

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BioBibliografia 2018

Biografia : Sou reformado do Comércio & Serviços e dedico os tempos livres que, logicamente, são todos os momentos do dia e da noite,...